Primeiro de novo.

Posted in By Emmanuel Lebowski 1 comentários

Mais uma vez um blog.


O que mais me impressiona, na hora em que eu sento na frente de um notebook e posiciono minhas mãos no teclado, é que eu não tenho nada para escrever. Tudo o que tenho, tudo o que eu penso, parece escapar com medo desta máquina infernal. Com certeza minhas mãos e meu cérebro preferem uma caneta e um bloco apoiado em um saudoso livro à uma tela e teclas.
No máximo um celular que salve arquivos ".txt".
Deve ser algum trauma de textos digitados e perdidos em formatação de máquinas, ou algo do gênero.
Enfim.
Lembro-me de quando comecei a escrever, e as pessoas me elogiavam e cada vez mais me apoiavam a seguir esse caminho. Lembro que ganhei canetas, ganhei uma vez um bloco bonito de capa preta, com uma dedicatória. Lembro que uma vez me pararam numa festa e disseram "ei, você é o Emmanuel Lebowski?".
Mas um dia viajei para Brasília e me fodi. Aquele lugar realmente não é bom se você vive no Rio de Janeiro e escreve coisas com base na sua vida e no cotidiano. E na ira. E em tudo. Lá isso não funciona. Lá é a terra para quem escreve romances ou histórias fantasiosas. Ou para quem gosta de Paulo Coelho.
Estava lá eu e lá não estava nada que pudesse me fazer escrever como escrevia. Mas um dia voltei pro Rio, mas era tarde demais. Estava perdido. Estava falido. Estava fodido. Já não escrevia mais nada que prestasse. "Merda".
Passei alguns meses morcegando e não fazendo nada de bom, ou nada que prestasse, ou nada que não prestasse. Não sei. Eu estava lá. Sozinho. Sem meu elemental, meu duende, meu espírito de luz, meu demônio, meu cachorro invisível ou sei lá o quê eles dizem que te inspiram as coisas. Só sei que eu já não era mais aquele cara que saía por ai fodendo e bebendo e me fodendo e bebendo mais ainda. Vivia um ócio tão enorme que não cabia espaço nem para ser um vagabundo. Paradoxo, mas é a vida.
Já estava indo tentar a vida no primeiro açougue à vista, e descubro que a vida pode te foder de maneiras cada vez mais inusitadas. Arrumo um emprego. Um emprego meia-boca. Restaurador. Trabalho lá alguns dias. Uma coisa bem america pós-recessão, só que sem o cheiro de morte e de miséria. Umas calças rasgadas e sujas de tinta, blusas de uniforme meio duras e incômodas pelos produtos químicos que deixávamos cair sobre elas. Capacetes e máscaras tipo "gás venenoso" e umas botas de operário que te faziam pensar que você era realmente o homem. Vinte e dois mangos e uns quebrados por dia. Alguns dias e um salário. Ou meio salário. Mas você não pode reclamar se não faz nada direito e morcega mais do que trabalha e ainda fala mal do seu chefe na frente de todo mundo que estiver ali. É aí que a vida entra e te pega por trás. Falto uma semana porque o bairro fodido que moro tem todas as suas vias fechadas por árvores durante uma semana de tempestade e fico sem luz durante cinco dias, vivendo a base de água e farofa. Assim que consigo voltar a ativa, me distraio e enfio a porra de um estilete fundo na minha mão, e aquela porra não parava de sangrar por Cristo nenhum. Nunca vi tanto sangue desde que filmei um parto em um hospital da Zona Oeste. Era muito sangue.
Fui ao hospital e o cara me manda ficar em casa durante nove dias. "Fudeu" pensei. "Merda. Eu recebo por dia de serviço."
Até hoje minha mão está fodida. Me fodendo e fodendo com meu bolso.
O pior de tudo é que não posso trabalhar e nem procurar um emprego. Não tenho dinheiro para pagar as minhas dívidas e muito menos para comer. E é na hora que você não tem dinhero que percebe que não é que as pessoas não dão valor ao dinheiro, mas sim que as pessoas dão valor demais ao dinheiro.
Acontece que quem não recebe dinheiro imagine que quem recebe tem a vida ganha. Quem não tem dinheiro pensa que seiscentos reais é muito. Pode até ser. Para elas. Não para alguém que paga aluguel, contas, comida, transporte público fodido, plano de saúde, fuma e bebe tanto quanto um macaco bêbado, como eu. Elas pensam que seu dever é fazer sobrar uns quatrocentos mangos e, meu amigo, em 2010 isso é impossível. A vida hoje em dia é mais cara que uma puta de Ipanema. E ela recebe até mais em um mês de foda que a maioria de vocês em um mês de trabalho. A vida só é fácil pra quem nasce com o rêgo virado para a lua, ou para cacetes durante o mês inteiro. Na década de 20, até o Velho sabia disso.
No fim, me fodi tanto que, aos poucos, estou voltando à ativa. Não como um vagabundo beberrão e fuderengo. Até porque até para ser um vagabundo você deve ter uns putos no bolso. Mas estou voltando a escrever, e isso por si só já me é uma boa notícia, em meio a tanta merda que me cai na cabeça.
Só espero poder comprar cigarros até o fim do mês.